Do sonho do
mentor à realidade dos dias hoje, mediou um quarto de século de portas abertas
a defender o lema Viva por Vida. É obra. Vinte e cinco anos, que transformaram
a 4ª seção dos Bombeiros Voluntários da Covilhã sedeada na vila do Paul, numa
unidade operativa de eficácia já sobejamente demonstrada. De forma radiográfica
vamos conhecer a sua história um pouco melhor.
Dos
que alinharam na primeira formatura no dia 21 Junho de 1990, aquando da
inauguração desta seção, restam cinco Bombeiros no ativo, são eles: Carlos
Valezim, José Carlos, Augusto Sardinha, José Luís Baptista e Alberto Rodrigues
e, foi precisamente o pai deste ultimo, Duarte Rodrigues, que no final da
década de 80 do século passado apresentou a ideia em Assembleia de Freguesia
bem acolhida por todos os autarcas de então. Já no decorrer do primeiro mandato
como presidente da Junta de Freguesia, Vítor Reis Silva e Duarte Rodrigues, em
Janeiro de 1990, bateram à porta da Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários da Covilhã (AHBVC), propondo a criação de uma seção no Paul, “para
sermos realistas, já no tempo em que o Sr. Rocha era presidente da Junta de
Freguesia do Paul, existia uma espécie de carro movido manualmente que tinha
dos rolos de mangueira e que tinha como finalidade acudir aos fogos, mas eu
estive na origem há mais de 25 anos do processo da instalação dos Bombeiros no
Paul”,
recorda este paulense reformado que sem perder o fôlego acrescentou, “fomos
bem recebidos nos Bombeiros da Covilhã, na primeira reunião e como resultado
viemos para o Paul a arranjar uma Comissão Instaladora que tinha elementos de
todos os quadrantes políticos, que depois conseguiu criar esta seção. O
primeiro carro que tivemos no Paul foi uma ambulância oferecida por um projeto
que havia na altura o AM23. Durante o tempo que tive ao serviço tive alguns
desentendimentos com o pessoal da Covilhã, porque eu queria mais e eles não
estavam dispostos a isso, mas a verdade é que na altura a secção do Paul era
conhecida pelo trabalho que fazia e por isso outras corporações quando necessitavam
de ajuda pediam a nossa intervenção. Era minha pretensão criar uma corporação
no Paul e tive tudo preparado para isso, mas a Junta de Freguesia da época não
se mostrou disponível para abraçar esta ideia, foram quinze anos que dediquei
aos bombeiros e alguns ainda como diretor da AHBVC, muitas das vezes com
prejuízo para a minha vida profissional, mas sinto orgulho por me dedicado a
esta causa”. Garantiu o mentor da criação da 4ª seção dos Bombeiros Voluntários
da Covilhã.
Um quartel provisório com 18 anos
Os elementos da 4ª seçáo dos BV da Covilhã sedeada na vila do Paul |
Um quartel provisório com 18 anos
Mas
o sonho deste homem teve outros continuadores e dai ter-se formado a tal Comissão
Instaladora
que tinha elementos de todos os quadrantes políticos numa perspectiva abrangente preconizada pelo chefe do executivo paulense em exercício à época e
da qual fazia parte entre outros Alberto Galvão”, para além de integrar a
Comissão Instaladora, estive ao serviço como Bombeiro durante muitos anos, no início
passámos por muitas dificuldades quem nos ajudou muito foi Luís da Silva
Carvalho. Nos primeiros anos quando alugámos a casa onde
estava instalado o
antigo quartel para garantir o pagamento da renda, nós comprávamos bebidas e
quando bebíamos um copo, mesmo que tivéssemos pago a garrafa voltávamos a pagar”.
Recorda este antigo empresário da área dos alumínios que muitas vezes deixava
os empregados sozinhos durante dias para combater os incêndios. Com
efeito, o primeiro quartel destinado aos Bombeiros do Paul era tudo menos isso.
De provisório com um prazo de dois anos passou a definitivo só por 18 anos!
Quem não se lembra destas instalações pouco dignas, mesmo aviltantes da nobreza
da missão que os voluntários tinham que desempenhar mesmo sem condições.
Uma das ultimas formaturas |
Marques
Malaca, que altura presidia à direção da AHBVC, afirmava sem papas na língua, “
a seção Paul não pode ser considerada um quartel, mas sim um autêntico curral”.
Esclarecedor.
Os
Soldados da Paz desta seção indiferentes a estas criticas e ao jogo das
palavras dos políticos, desde da primeira hora responderam com prontidão à
chamada com equipamentos obsoletos, por vezes sem condições de segurança e até
ocuparem as instalações do novo quartel, inaugurado em 20 de Outubro de 2007,
passaram por muito.
Como
tudo na vida, houve momentos bons, de partilha, convivência sã, mas sempre de
entrega generosa a uma causa e, houve outros de má memória, como aquele em que
alguns bombeiros iam perdido a vida, ainda assim, não esmoreceram o seu entusiasmo
e um deles que resultou na perda de uma viatura devorada pelas chamas é
recordado por quem o viveu na primeira pessoa, “ fomos render os camaradas num incêndio florestal que começou na Pampilhosa da Serra, e por cima de Unhas o
Velho tínhamos a viatura parada, nas suas imediações andava uma frente mais
ativa e outra que parecia adormecida, só que esta ultima de repente parece que
acordou e ganhou uma dimensão que não consigo explicar, eu era o condutor da
viatura e ainda tentei arrancar com ela mas foi impossível, só tivemos tempo de
fugir e a equipa constituída por cinco elementos, sentiu verdadeiramente a sua
vida ameaçada, valeu-nos na altura o comandante Sérgio Duarte dos Bombeiros de
Barcarena, que surgiu no meio do fumo
para nos ajudar e se não fosse a coragem deste camarada não sei se estaria a contar esta história, aquela que
foi a mais marcante da minha carreira de
vinte anos nos Bombeiros”, sublinhou António Carvalho,
que ainda disse que apesar de
ter acabado a sua carreira,”
continuo a gostar dos Bombeiros, porque no tempo que estive no ativo,
ainda vivi outros momentos difíceis, mas
tive também outros muitos bons”. Os
ativos da 4º seção na atualidade são vinte e seis elementos, no ativo estão 14
homens e 2 mulheres, os estagiários são 4 masculinos e 2 femininos e ainda 2
cadetes masculinos, mas como foi dito só cinco estão desde da primeira formatura, contudo, muitos já incorporaram esta unidade que por abandono ou mesmo terem falecido já não
dão o seu contributo, mas nunca o regatearam enquanto estiveram no ativo ,
sendo por isso, parte integrante da
historia desta secção. Todos merecem o incondicional respeito e apreço.
O antigo quartel |
Lágrimas na
inauguração do novo Quartel
Quem
só conheceu as instalações do novo quartel foi Filipe Duarte que também já não
está no ativo, “desde de miúdo que sentia-me atraído pelos Bombeiros, depois
quando vim residir mesmo para junto do quartel decidi incorporar-me. Já apanhei
estas condições oferecidas pelo novo quartel, mas sei dos sacrifícios que os
colegas passaram no antigo. Estive cinco anos no ativo que partilhei com estes
homens e mulheres que merecem o nosso respeito e admiração. Lembro-me que num incêndio florestal perto do Barco mais um camarada, vivemos uma situação
difícil quando ficamos cercados pelas chamas, não sei com conseguimos escapar.
Mas para além destes momentos de aflição tive tantos outros que recordo com
prazer. Por razões pessoais e profissionais, já não posso dar o meu contributo,
mas apesar de ter saído, o bichinho ainda continua cá dentro. Gostaria que a
Seção do Paul pudesse desenvolver-se e manter-se no ativo por muitos anos.
”Defendeu este jovem paulense.
Mas
vale a pena recordar um pouco mais detalhadamente um marco histórico. O
primeiro dia do resto da vida do novo quartel.
O novo quartel |
O
dia foi de festa para a população em geral. A ansiada e necessária obra do
quartel dos bombeiros paulenses e do auditório estava ali erguida do alto da
sua imponente fachada e era mais do que um sonho passando a realidade. Já ao
declinar da tarde de 20 de Outubro de 2007, no rosto dos soldados da paz da 4ª
Secção dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, sedeada na vila do Paul, havia uma
expressão de contentamento e de satisfação, finalmente iriam ter o seu novo
quartel. Fardaram-se a rigor para realizar uma formatura defronte das novas
instalações. A verdade é que inexplicavelmente o Comandante dos Bombeiros
Voluntários da Covilhã de então, José Flávio, deixou os Bombeiros da 4ª seção,
“ sozinhos” a ouvir o hino nacional defronte das suas antigas instalações e não
fizeram parte da formatura geral, sendo certo que, esta situação causou
desagrado neles e até algumas lágrimas de revolta por não terem participado
formalmente na “sua” festa. Começava mal o primeiro dia do novo quartel e como
se isto não bastasse, sabiam que ainda ia demorar algum tempo até que a
logística fosse instalada e pudessem ocupar efetivamente as novas instalações,
o que viria só acontecer no fim de semana da Páscoa 2008, com os bombeiros
locais a manifestarem o seu contentamento por finalmente terem boas condições
de operacionalidade e de bem-estar.
Dai
para cá as peripécias de andarem com o colchão às costas a fugir da chuva não
acabou, é que por deficiência de fabrico o quartel tinha infiltrações que só à
pouco tempo foram resolvidas.
Com
um parque de viaturas bem mais apetrechado na atualidade a estes bombeiros tem
de reconhecer-se o papel importante quer na Freguesia em particular, e de modo
geral nas freguesias do sul do concelho e na restante zona geográfica dele,
sempre que lhes é solicitada ajuda. Citando um bombeiro, “são homens e
mulheres, de diferentes idades, todos eles prestam um contributo imprescindível
à vida dos seus concidadãos. Fazem frente a acidentes ou catástrofes, incêndios
florestais, apoiam pessoas doentes no socorro pré hospitalar, promovem a
segurança, a proteção e o socorro das populações. Os bombeiros fazem tudo isto
sobretudo pela gratificação moral que sentem nessa entrega generosa, num
exemplo notável de coragem e motivação solidária pelo serviço público e pelo
lema Vida Por Vida. Por varias vezes, os bombeiros põem em risco a própria
vida. Prestamos aqui homenagem aos que morreram ou se feriram irremediavelmente
em serviço e até aos nossos sócios.”.
Valeu
a pena os bombeiros percorrerem este trajeto? Eles respondem sem hesitações.
Sim. Até porque, “Vale sempre a pena quando a alma não é pequena”.
A
4ªseção dos Bombeiros Voluntários da Covilhã parqueada na vila do Paul, está na
atualidade a promover uma campanha de angariação de fundos que visam a
aquisição de equipamentos de proteção
individual, por isso, está na altura de ajudarmos quem nos ajuda. Contribua.